Conhecer a casa de um escritor como Gilberto Freyre é uma experiência imperdível. Foi por pouco que não passou batido, já que não vi relatos sobre o local antes da minha viagem a Recife. Ainda bem que de última hora resolvi incluir no meu roteiro um passeio por essa fantástica casa-museu do século XIX, localizada no bairro de Apipucos, zona norte da cidade.Todo o circuito é feito com uma educadora, que nos dá uma aula sobre o cotidiano da família e nos orienta a não fotografar nos interiores. Neste post vou compartilhar o que ficou marcado na minha memória.
Fundação Gilberto Freyre. Foto: Carina Pedro. |
Não é de se estranhar que Gilberto Freyre quisesse preservar o lar, a "Vivenda Santo Antonio de Apipucos", em que viveu com sua família por mais de quarenta anos. Foi lá que pintou seus quadros, recebeu seus amigos, escreveu seus livros e pensou muito sobre o Brasil. É uma casa da elite pernambucana, reconhecida como casa-grande pelos historiadores, aberta ao público. Assim que entrei naquele universo doméstico particular, começou uma deliciosa viagem no tempo por entre os móveis de jacarandá, todos belos e resistentes, e por entre as pinturas e fotografias pessoais, como as do seu casamento com Magdalena.
Destaco a ampla sala de jantar, com lindos azulejos portugueses decorando as paredes e diversos objetos herdados e presenteados por amigos. Aliás, é interessante os diversos símbolos religiosos que convivem na casa, de um oratório judaico às imagens de santos católicos. A presença de uma mesa retangular e muitas cadeiras demonstram que Freyre e sua família gostavam de receber visitas. Ali também havia uma saída para um solário, onde o sociólogo passava parte do seu tempo pintando. Os móveis brancos de vime trazem leveza e aconchego para esse espaço.
Fundação Gilberto Freyre. Foto: Carina Pedro. |
Outro ambiente surpreendente é, sem dúvida, o gabinete de trabalho, onde Freyre escrevia seus textos à mão, evidentemente, bem mais organizado que na época em que estava vivo. Uma infinidade de livros e documentos históricos rodeavam o escritor, que gostava mesmo de escrever sentado em sua confortável poltrona, com um apoio em uma das pernas e o material de pesquisa espalhado pelo chão. Hoje, essa incrível biblioteca particular, de cerca de 40 mil volumes, incluindo as diversas edições de seus livros, pode ser consultada por pesquisadores.
Os quartos de dormir, do casal e de cada filho, Fernando e Sônia, também me chamaram a atenção pelos janelões e a linda vista para o jardim. São arejados, mesmo sem ventilador ou ar condicionado. Nessas casas de antigamente fico com aquela impressão de que as dimensões de alguns móveis, como as camas e cadeiras, funcionam para pessoas de baixa estatura, na casa da família Freyre, não foi diferente. Na suíte do casal, por exemplo, o pé direito do banheiro me pareceu bem baixo, nos deixando meio aflitos.
Fundação Gilberto Freyre. Foto: Carina Pedro. |
Na parte externa da casa temos outras surpresas e belezas, que podemos fotografar à vontade, como as que estão nesse post. Finalizei o passeio em uma lojinha com diversos livros de Gilberto Freyre, entre os títulos, alguns já conhecia da faculdade, outros eram novidade, como "Açúcar" e "Recife Assombrado". Esse último é tema de um delicioso passeio noturno de Catamarã pelo rio Capibaribe, em que um narrador e atores interpretam os contos de fantasmas que ficaram famosos pelas ruas do Recife. Claro que já estou com o livro em mãos, logo eu que adoro uma história de terror!
A Casa-museu é parte da Fundação Gilberto Freyre e funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h30. O valor do ingresso é R$ 10 reais.